EXCLUSIVO: Barravelhense entrevista Valdir Nogueira, ex Secretário de Educação em Barra Velha
- Rede BV
- 24 de mar. de 2015
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Foto facebook
“A política educacional de Barra Velha ainda é esboço e precisa trilhar caminhos mais ousados e focados com planejamento sistêmico para tornar-se realidade na territorialidade municipal.” Disse o ex Secretário de Educação de Barra Velha, Valdir Nogueira, em entrevista exclusiva ao Portal Barravelhense.
Qual o motivo de sua saída do cargo de secretário de Educação em Barra Velha?
Trata-se de uma escolha pessoal. Dar continuidade a minha vida acadêmica. Preciso retomar os trabalhos com os grupos de pesquisa da Universidade Federal do Paraná, a participação nos seminários e simpósios de investigação em educação e, dar continuidade às pesquisas que iniciei após o doutorado. Estou com o projeto do pós-doutorado para concluir e, nesse sentido, preciso me dedicar com maior intensidade.
Você em algum momento sentiu-se desprestigiado pelo prefeito?
Não houve, em momento algum desprestígio pelo prefeito. Somos amigos desde muito tempo e nossos diálogos seguiram com o mesmo respeito e amizade. O que se pode apontar, numa gestão pública, são os limites de entendimento ou os alcances pretendidos nas políticas públicas em educação e isso não tem nada a ver com ser ou não desprestigiado, tem relação com os alcances que se quer em relação às políticas educacionais.
O prefeito cancelou o programa do Governo Federal Mais Educação. O que representa essa decisão para a educação em Barra Velha.
Não houve cancelamento do Programa do Governo Federal - o Mais Educação. O prefeito não pode fazer isso. O Programa Mais Educação, como o próprio nome já diz – é um programa, e é indutor à construção de uma Política de Educação Integral e foi essa experiência que estava sendo desenvolvida no município que foi, segundo o prefeito, temporariamente suspensa. Sobre o que representa isso para o município, vou responder com um questionamento: como avançar na formação dos sujeitos-alunos como sujeitos cidadãos críticos e de direitos a mais educação e a educação com qualidade se não há compreensão das políticas públicas em educação? O significado está aí. Barra Velha tem programas de governo, mas não se abriu à construção de políticas públicas para a educação. Era o que estávamos ensaiando.
Em que situação encontra-se a política educacional em Barra Velha?
Na pergunta anterior já respondo a essa questão. Mas, pode-se ampliar o entendimento no sentido de que Barra Velha, sob o ponto de vista educacional tem uma lei de sistema, um plano de carreira e diretrizes curriculares organizadas pela gestão anterior. No entanto, esses documentos não representam políticas educacionais desdobradas em concretudes onde se traçam os planejamentos e as linhas condutoras da ação educacional no município. No PPA – Plano Plurianual, traçamos metas e objetivos que dessem um delineamento das políticas educacionais a serem seguidas e implementadas. Além do PPA, apontou-se a necessidade de um planejamento estratégico na educação – o que realizamos, em parte com os técnicos da secretaria e com diretores de escolas. Nesse conjunto de planejamentos, estão os projetos, os programas, os processos de ensino e de aprendizagem e as adequações necessárias à infraestrutura física e humana, bem como, sob o ponto de vista do acesso e da permanência dos sujeitos alunos nas escolas. Ainda, nessa direção, procuramos traçar uma perspectiva educacional para Barra Velha representada por missão e visão claras de onde se parte e onde se pretende chegar, dados os atrasos constatados na pasta. Nesse sentido, pode se dizer que a política educacional de Barra Velha ainda é esboço e precisa trilhar caminhos mais ousados e focados com planejamento sistêmico para tornar-se realidade na territorialidade municipal.
Qual a avaliação que você faz do trabalho realizado por você frente a Secretaria de Educação de Barra Velha?
Foi um trabalho muito positivo e intenso. Trabalhei com pessoas muito competentes e dinâmicas. Escolas, gestores e educadores se abriram a outra perspectiva educacional e isso é grandioso. Precisávamos movimentar a educação e dinamizar os espaços-tempos de aprendizagem e isso foi realizado. Outras dinâmicas, outros modos de valorizar o que acontecia nas escolas e na vida acadêmica dos alunos e professores foi estabelecida – as divulgações/publicações, os seminários, as mostras pedagógicas, os encontros para debates, enfim, em perspectiva colaborativa, empoderamos os tempos, os espaços e o direito de aprender. E isso não ocorreu apenas na aprendizagem, também na infraestrutura com reformas e retomadas das obras, com aquisições de veículos, com abertura ao dialogo com professores nas paralisações, nas lutas por melhores condições de trabalho e salarias. Para mim, foi um tempo de aprendizagem muito significativo. Foi o mesmo que fazer outro doutorado em tempo reduzido.
Quais os projetos que ficarão registrados como seu legado na gestão da secretaria?
Vou listar o que fizemos como equipe e isso deve ser reconhecido como trabalho de todos: Criamos PROGRAMAS E NÚCLEOS como o Núcleo de Tecnologias Educacionais – NTE; Núcleo de Estudos e Atendimento Especializado – NEAES; Programa Docência Mais Cultura –formação cultural e socioambiental dos professores em outros ambientes; Educação Ambiental – construção de proposta inicial. Investimos nos PROGRAMAS NACIONAIS: Programa Mais Educação – Educação Integral Integrada; PNAIC – Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa; Atleta na Escola – Programa de Formação Esportiva Escolar. Demos continuidade a PROJETOS SOCIAIS e criamos outros: Ginásio Aberto: Atividades Esportivas para a Comunidade; Esporte, Saúde e Cidadania na Comunidade; Cultura nos Bairros: O direito à Rua; Leitura e cidadania: Formação de leitores na UPA. Nos PROCESSOS DE ENSINO E DE APRENDIZAGEM PRÁTICAS EXTRACURRICULARES, onde havia maior lacuna e precisava de mobilização e de novos direcionamento, implementamos: Integração Pedagógica; Projeto: Aulas de Reforço; Projeto Presença; Caminhada da Paz e Não-Violência; Jogos Escolares da Paz; Mostra Pedagógica- Atletismo Escolar; Mostra Pedagógica Volêi Junior Escolar; Maratoninha Escolar; Mostra Pedagógica Tênis Junior Escolar; Mostra Pedagógica; Non Violence - Esporte pela Paz – Não à Violência; Porto Literário; Árvore da leitura; Projeto INVIO – focado na infrequência escolar; Educação Científica – formação com foco na Astronomia, na Física, na Mecânica e na Matemática; Vereador Mirim em parceira com a Câmara De Vereadores; Recreio Lúdico – jogos formativos para os períodos de intervalos; Aula de Música; Mostra Musical; Dança – ainda em experimentação na rede; Folclore Local. Na FORMAÇÃO DOCENTE E DOS GESTORES – aspecto de avanço e de necessidade encontrada na rede, desenvolvemos: Inclusão e Libras – cursos para professores e comunidade; Colegiado de Gestores; Seminários – tivemos a presença de muitas universidades nacionais no município, a exemplo da PUC, da USP, da UnB, da UFSM, da UFPR, da UFSC, da UNIVILLE, da UNIVALI, etc.; Orientações e Acompanhamento Pedagógico nos Anos Iniciais; Orientações e Acompanhamento Pedagógico nos Anos Finais; Orientações e Acompanhamento Pedagógico na Educação Infantil; Orientações e Acompanhamento AEE; Curso de Formação AEE; formação para Motoristas e Monitoras. Iniciamos um trabalho na direção de se criar a COMISSÃO PRÓPRIA DE AVALIAÇÃO – CPA. Investimos na NUTRIÇÃO ESCOLAR, com mais abertura e dialogo para as ações da nutricionista. No SETOR DE TRANSPORTES, ampliamos, na medida do possível, a frota. Os veículos recentemente apresentados à sociedade ainda foram investidas nossas para que a educação ampliasse sua frota devido as necessidades cotidianas. Deixamos articulado o Projeto de Lei que cria o Núcleo de Atendimento Educacional Especializado; o Projeto de Lei Complementar que Valoriza o Professor Alfabetizador que atua no terceiro ano; o Projeto Porto Literário que mostrou os potenciais da educação municipal. Nesse período, foram reformadas 06 unidades escolares, retomadas duas obras em atraso, uma com mais de sete anos e encaminhado projeto de novas reformas e ampliações, além da elaboração do projeto da Biblioteca Municipal, juntamente com equipe de arquitetos e engenheiros. As escolas estavam sucateadas sob o ponto de vista físico-estrutural e fizemos um plano emergencial de reformas que foi seguido, com continuidade para os próximos dois anos. Trouxemos para Barra Velha, em convênio, a UNISOCIESC – Barra Velha passa a ter polo universitário novamente; Fizemos convênio com o SESI para ampliar as perspectivas de formação na Educação de Jovens e Adultos – outras possibilidades educativas; Organizamos o início da formação na modalidade prisional de Educação de Jovens e Adultos para a UPA em convênio com o Estado. Esses e outros trabalhos já foram planejados, precisando apenas dar sequencia pelo novo secretário.
Qual a mensagem que você deixa aos professores, alunos, pais e ao público Barra-Velhense?
No relatório que entreguei ao Prefeito, ao atual Secretário de Educação, à Câmara de Vereadores e aos Educadores e Gestores, Técnicos e Especialistas em Educação, eu defino a Educação como uma possibilidade. É isso! Mas para enxergar essa possibilidade é preciso mudança de mentalidade. Esse é o maior desafio em Barra Velha. Diria aos pais, professores, alunos e à comunidade o que escrevi no final do relatório: “Por fim, para que o Sistema Educacional Municipal se desenvolva com coerência e potencial, cabe o que propõe Humberto Mariotti (2000, p. 320), “[...] melhor seria que estivéssemos sempre abraçando e nos deixando abraçar” (MARIOTTI, 2000, p. 320). Em tese, a política do abraço é uma política que, ao entender que a escola pode ser referência na sociedade, entende com ela, a escola, que a Educação pode ser uma matriz de produção de felicidade, de empoderamento do ser humano”.
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