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Praia do Grant | Itajuba | Barra Velha

  • Foto do escritor: Rede BV
    Rede BV
  • 1 de abr. de 2017
  • 4 min de leitura

praia do grant

A Praia do Grant é um dos pontos turísticos mais procurados no litoral norte catarinense. Localizada em Itajuba a poucos minutos ao sul do centro de Barra Velha, além das águas calmas e cristalinas, quem visita o Grant tem muita história e estórias para ouvir, conhecer e contar.

Para conhecer melhor a história do Grant, recorremos a obra de um ilustre Barra-velhense, um patrimônio vivo de Barra Velha e o mais importante historiador do município e da região: ninguém menos que o professor de história Caca Fagundes!

Nos registros de Caca Fagundes(Caca para os íntimos) sobre a história de Barra Velha e Itajuba, a praia do Grand tem um capítulo especial que representa grande valor cultural e histórico para Barra Velha.

caca fagundes

Mr. GRANT por CACÁ FAGUNDES

Era uma vez um homem conhecido por “Mister”, Mister Grant na pitoresca faixa de Joinville/Itajuba, SC. Nasceu em Saint Vicent – Bristish West Indies, Antilhas Britânicas, filho de James Alexandre McGregor Grant e Raquel Romney, fazendeiros e hoteleiros.

grant itajuba

Naquela pequena ilha, formou-se engenheiro construtor e cedo concluiu que o ambiente fornecia poucas possibilidades de aplicação dos conhecimentos adquiridos, fato que não combinou com seu espírito empreendedor e aventureiro.

Por volta de 1908, com mais de 30 anos, o jovem Alex embarcou num cargueiro, rumo à América do Sul, deixando para trás, família, amigos e saudades.

Pisou novamente em terra firma no Rio de Janeiro e enfrentou inicialmente as dificuldades da nova língua. Empregou-se num restaurante, revelou-se excelente cozinheiro. Conhecido entre os inúmeros clientes do endereço o pessoal da companhia petrolífera Standart Oil que lhe ofereceu uma nova e atraente ocupação. Pouco depois, a mesma Standart Oil, formulou nova proposta, agora trabalho no Paraná e Santa Catarina.

Passando por Joinville a histórica cidade dos príncipes, apaixonou-se duplamente: pelos encantos da cidade e da jovem Augusta Burgine Carolina Sofia Adele, filha de um dos mais destacados colonizadores da região, a família Richlin. Assim a seis de julho de 1911, casou-se Alex e Adele, confirmando ele sua condição de respeitável cidadão joinvilense, ainda que (stranger) estrangeiro, mas para sempre, a partir de então, “Mister Grant”.

O casal teve cinco filhos:

Érica - 1914

Mabel Agnes - 1916/1994,

Adele - 1917/1978,

Alexandre - 1919

e Gustavo Edgard - 1920/1988

A profissão de engenheiro construtor determinou inúmeras viagens ao Paraná onde empreitou obras rodoviárias importantes na região de Cambará e Londrina; como nunca esqueceu a saúde frágil da esposa, fixou residência em Joinville mesmo.

Associou-se com o senhor Weinmeister numa usina de açúcar em Pirabeiraba, onde comprou muitas terras e tornou-se fazendeiro. Com a florescente usina, criou os filhos e, com mais tempo perdeu e ganhou muito dinheiro com a venda dela. Os filhos cresceram, mas a forte voz do sangue cobrou o despertar do sonho adormecido: jamais esqueceu Saint Vicent, nem o culto do seu ídolo, Sr Winston Churchill.

Certo dia o destino levou-o ao litoral, quando “descobriu” Itajuba. Encontrou num só local, isolamento, belezas naturais, ilhota na frente noites escuras, outras tantas de luar, lendas de fantasmas, piratas (que enterraram tesouros na praia), tartarugas, camarões, peixes mil, macaquinho em festa na densa vegetação em torno, tudo revitalizou o forte imaginário das Antilhas Britânicas.

Comprou primeiro a parte ao lado do riozinho, onde construiu uma casa de madeira para a família.

A vista, como ainda hoje, magnífica: lado esquerdo as pedras brancas, Barra Velha; lado direito Piçarras, as ilhas Itacolomi, na frente 500 metros da praia a pequena ilhota.

Naquele cenário primitivo, lá pelo tempo da Segunda Guerra Mundial, as tartarugas chegavam até perto da casa, numa fartura pesqueira impressionante, mas...

Mister Grant quis mais. Como apaixonado súbito da coroa, consumidor de lendas de pirataria e tesouros escondido, pensou: “Se tantas nações levaram deste Brasil incontáveis riquezas era até possível que algum obscuro corsário esquecera algum valioso baú pelos arredores”.

Foi além, comprou a praia toda, com muito empenho e obstinação. Não encontrou qualquer tesouro, preferiu sua objetividade nata. Fez valer seus dotes de construtor, levantou a Segunda casa, desta feita para acomodar os amigos que, contagiados pelo entusiasmo do anfitrião em louvor o local, propuseram um desafio: “Mister Grant, por eu não construir aqui um hotel e veraneio?”.

Desafios aceitos multiplicaram-se os espaços para os hóspedes, refeitório, frigorífico, orquidário num pequeno paraíso que atraiu e encantou muita gente exigente e depois, muito satisfeita. Em épocas de carnaval, a pousada vivenciou, os seus melhores dias, com reservas marcadas com um ano de antecedência.

Mister Grant abriu ainda pessoalmente várias picadas em direção ao mar, para facilidade dos hóspedes, mas nunca dispensou o ritual do seu banho matinal.

Sempre às 6 da manhã, depois de sondar eventuais buracos na areia cobertos pela água com a inseparável bengala, ficava boiando por 1 hora, dentro do enorme calção cinza, já às 7 horas, banhava-se sob um formidável chuveiro de água mineral de análise devidamente comprovada.

Cultor de boa culinária, preparou pratos exóticos, colecionou orientações turísticas, implantou gerador de eletricidade, rodeou a propriedade de canteiros de pedras brancas e pretas alternadas, perdeu a conta de quantos casais ali fizeram sua lua-de-mel. Incansável obteve ainda da Marinha a autorização para criar cabras na ilhota fronteiriça, como esboçou também um “bondinho” ligando aquele espaço ao morro em frente.

Os planos para levar água mineral desde a fonte até os quartos dos hóspedes e a ampliar a rentabilidade do empreendimento. Levaram o “nosso” Mister à rodada de negócios em Curitiba.

Lá, navegando como sempre nas ondas do sonho, da solidão companheira inseparável dos justos e idealistas morreu sozinho num quarto de hotel deixando um enorme vazio entre todos aqueles que tiveram a ventura de conhecê-lo pessoalmente, isto em 23 de dezembro de 1954.

Relacionei estes episódios sobre a vida do meu avô, com base nos relatos de minha mãe, Erica Grant Eger; eu como neta mais velha de Mister Grant vivi todos eles hoje envoltos no suave perfume da saudade.

Inesquecível mesmo o especialíssimo português que ele usou para justificar o próprio sonho: “Lilian my dear, est não ser o masis lind lugar do mund, “The Paradise?”


 
 
 

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